Grupo oferece churrasco de tubarão em ato em prol de pesca controlada
30/11/2012
"Não defendemos o extermínio de qualquer animal, apenas propomos ações preventivas de controle biológico para o equilíbrio do bioma marinho". O aviso, dado no folheto do movimento Propesca, desconstrói a ideia formada por parte da população recifense, que acredita que o grupo se propõe a caçar tubarões predatoriamente. E foi com o intuito de esclarecer a população sobre isso que integrantes do movimento se reuniram na beira-mar de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, na tarde desta sexta-feira (30).
O encontro - que contou com cerca de 50 pessoas, que comeram churrasco e tomaram caldinho feitos a partir de 40kg de tubarão da espécie Mako, comprados legalmente -, buscou ainda chamar a atenção do governo do estado e da Prefeitura do Recife. "Queremos conscientizar a sociedade civil em peso, com relação aos ataques de tubarão, ao longo desses 20 anos. As medidas que vêm sendo tomadas não tiveram nenhuma eficácia, até agora não houve resultado. A sociedade civil clama por uma resposta", afirma Bruno Pantoja, engenheiro de pesca e idealizador do Propesca.
O surfista Bruno Amaro, 32, conheceu o movimento através de Pantoja, de quem é amigo: "Acho que o movimento pode unir duas coisas muito interessantes, que é a continuação das pesquisas em relação à problemática dos tubarões com uma solução imediatista, que é a pesca artesanal não predatória. Queremos tentar equilibrar a situação", descreve.
"A pesca desordenada e predatória é um agravante. O que nós propomos é uma política estruturante de ordenamento da pesca, com monitoramento e um programa de educação ambiental", explica Pantoja, ao detalhar que o Propesca prevê a conscientização dos pescadores para evitar a captura de tubarões do tipo lixa, por exemplo, que estão em extinção.
Protesto também teve caldinho de tubarão
(Foto: Gabriela Alcântara / G1)
No manifesto divulgado pelo grupo, algumas iniciativas desejadas pelos manifestantes são descritas. Entre elas está a implantação de um sistema de segurança para os banhistas e desportistas aquáticos. "Isso seria feito com a implantação de telas rígidas, retráteis, de dupla galvanização, com material anti-incrustante, ao longo de toda a costa da Região Metropolitana", explica Pantoja.
Outras ações sugeridas pelo projeto são a fiscalização e o monitoramento do desembarque pesqueiro, programas de apoio aos animais ameaçados de extinção e inclusão de jovens de baixa renda à prática de esportes náuticos. "Ao invés de matarmos os animais em peso, vamos afugentá-los. Caso eles consigam, de forma ínfima, passar pela rede de proteção, sirenes ligadas à rede soariam, para a evacuação da área", detalha o engenheiro de pesca.
O grupo pretende ainda monitorar o ecossistema de mananciais e manguezais, a fim de cobrar do governo a preservação dessas áreas. "É uma questão importante dentro desse contexto. A poluição faz com que 67% do esgotamento sanitário da Região Metropolitana seja lançado diretamente dentro dos rios, obrigando esses animais a procurar outro habitat para se refugiar, reproduzir e alimentar", esclarece Pantoja.
'20 anos de ataques'
Pesquisador de ataque de tubarões e ex-coronel do Corpo de Bombeiros, Neyff Souza também se interessou pelas propostas do Propesca. "Pesquiso o assunto desde 1980 e estou dando apoio ao grupo porque é uma representatividade da sociedade civil, criada para cobrar os resultados das pesquisas que foram feitas nestes 20 anos de ataque".
"Temos aqui ataques históricos, como o de um padre franciscano em 1947, alguns nos anos 1960, poucos nos anos 1980 e, com toda a devastação de meio ambiente e também o afluxo de pessoas e o advento mais efetivo de esportes náuticos, um aumento de ataques desde os anos 1990. O que nos preocupa é que, em lugares que registraram ataques, as pessoas querem logo caçar o tubarão, ao invés de verificar o porquê de ele estar atacando", explica Souza.
Ainda de acordo com Bruno Pantoja, o Propesca pretende ainda buscar apoio junto ao Ministério Público de Pernambuco: "Estamos solicitando ao MPPE que se conscientize e reflita sobre as questões ambientais e a problemática dos ataques de tubarão. E, principalmente, vidas humanas que estão sendo interrompidas".